sexta-feira, 25 de junho de 2010

Idades

Meus amigos tem denonstrado recentemente uma certa preocupação com idade.
A maioria deles tem ali entre os 20 e 35. Mas que preocupação é essa?
Geralmente, está atrelada a conquistas profissionais/financeiras e a relacionamentos.
Esses dias um amigo meu de 26 anos veio me interpelar dizendo que ia 'ficar pra titia'! Só porque concluiu que está solteiro a 1 ano e como não rolou de se estabelecer com ninguém legal nesse tempo, 'logo', vai ficar sozinho for ever.
Depois de uma pérola dessas parei para refletir sobre o assunto.
O 'logo', ficou assim, em itálico, no intuito de ressaltar como hoje tem sido comum pessoas fazerem raciocínios simplistas sem levar nada mais em consideração. É a rápida absorção de informações do mundo de hoje que quer fazer dispensável o raciocínio. A sociedade age assim e somos contaminados com isso.
O gay, em parcela significativa, tem uma vida mais preocupada em si mesmo, na sua aparência, no seu sucesso, e justamente por isso é um prato cheio para o consumo que vê nele seu promissor sustentador.
O universo gay é bombardeado por imagens, idéias de vida que tentam se fazer comum a todos e o homem por instinto natural, tende a leva-las muito a sério. Logo é levado as buscas frenéticas por academia, a melhor grife, enfim, de 'ter' o máximo de status.
Nisso o que mede o quanto você é 'top' passam a ser atitudes como: as baladas que voce frequenta ou o tamanho da sua agenda, logo isso mantém um pavio de pólvora eternamente aceso na cabeça de muita gente: até quando isso vai durar?
Um outro veneno, que inconscientemente ou não ronda nossas cabeças é a comparação: o ato de medir o nosso sucesso ou a nossa felicidade em detrimento da vida dos outros.
Algumas frases que escuto retratam bem isso: 'poxa tão novo já e...', 'ele já é tal cargo e eu?'.
Fazer uma avaliação da sua vida mediante a dos outros é pequeno, pra não dizer medíocre, muitas vezes sinônimo de insegurança, inveja (inveja má) e de como somos seduzidos a 'ser' o outro e não nós mesmos. Sobre isso eu já discuti aqui.
Aí se entra em crise, pensando nos projetos que não vingaram, no corpo que se tem/conquistou - até quando ele vai durar? - no profissional, na carreira que não deslanchou, enfim, a parafernália psicológica vai pouco a pouco tomando conta do seu ser e você começa a ver rugas onde não existe, problemas grandes em pequenos disturbios, abusando de cremes 'renew' indiscriminadamente, vivendo uma nostaligia antecipada e vendo dor em cada dia que chega como se houvesse uma placa escrito: 'morte' bem na sua frente... e enfim, o resto eu não preciso dizer onde vai dar...
Óbvio nenhum de nós vamos ter nossos corpinhos joviais a vida toda, mas muita gente vive numa intensidade tão desmedida - e vazia - que não consegue imaginar uma outra situação como se isso fosse o fim do mundo.
As vezes, o que me parece é que para alguns tudo o que pode ocorrer na vida acontece entre 20 e 30 e poucos e o resto é vegetar.
Muito derrotista isso? Ao menos para mim, é.
Será que é muita pretensão minha, dar uma de psicólogo ou isso é um fato?
Dica? Se conselho fosse bom não se dava, mas...
Viver sim, cada dia MUITO bem vivido e não sofrer por antecipação. Não mesmo!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Deliver Me


Não quero mais os estereótipos
as tipificações, as falas recalcadas.
O cargo nobre que promove a soberba.
A busca incessante dos corpos e nada mais.
A mesma que entramos pra se distanciar deles
e para eles retornamos.
As idéias falsas, as pessoas avarentas.
Nomes a mais na agenda, pessoas a menos pra se contar.
O olhar recriminante de quem é recriminado e não se enxerga.
Me afastem dos imbecis, dos soberbos,
dos falaciosos, dos mentirosos,
dos que se preocupam com a imagem
da dor, do medo.
Dos que falam pra se aparecer. Egocêntricos.
Das cabeças-ocas que se acham pensadoras. Ignorantes.
Das roupas caras, do status fútil, do carão desnecessário,
da descrição do engenheiro, sucedido, assado.
Do sentimento na carteira.
Da amizade por interesse.
Não acredito mais e não o sinto mais, esse amor que eu conhecia.
Conhecia.
O amor dos homens tem sido tão concreto quanto pegar a nota de uma canção.
Eu esqueço as pessoas e elas me esquecem
e cada vez mais entro em conflito
com tudo que fui, com tudo que quero ser.
As rosas vermelhas se tornam cada vez mais amarelas.
E menos rosas.
Um penhasco que se aponta, dentro do meu coração
que quer me engolir, me dragar.
Uma paz que só vejo no céu
nas doces nuvens bailando num céu azul
perguntando o porque de tudo ser tão impossível
onde por uma hora o coração pára.
Pára.
Para...
Para não se cobrar mais e saber
que apesar de tudo
de todos esquecerem
Alguém não esquece jamais.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Vingança Involuntária

vingança
vin.gan.ça
sf (vingar+ança) 1 Ação ou efeito de vingar ou vingar-se. 2 Desforra, represália, vindita. 3 Castigo, punição. 4 Desejo de se vingar.



Quando não há desejo de retaliar, continua havendo a vingança mesmo se ela ocorre involuntariamente?
Explico: É sobre aquele que achei que era o cara e não era.

Nos conhecemos a um mês e meio, e nas duas primeiras semanas saíamos e trocavamos mensagens constantemente. As ligações sempre muito rápidas, algo do tipo:

"Oi, sou eu."
"Tudo bem?"

"Tudo, está no trabalho?"

"Estou, olha estou corrido aqui, me liga de noite".


Esse tipo de diálogo corrido, onde ele me tratava no telefone como aos seus fornecedores, se manteve na segunda e terceira semanas, onde mesmo ele aparentando uma 'falta de tempo' para conversar demonstrava interesse através de palavras e 'promessas' de fazermos algo.
Nem preciso dizer o que aconteceram com as promessas: converteram-se em bolos, homéricos e subsequentes.
Na quarta semana após vários 'bolos' que ele me dava e um presentinho que comprei pro seu aniversário que ficou em casa porque no dia ele 'obrou'* pra mim no telefone, não liguei mais.
Daí uma semana após meu silêncio, enquanto já havia até esquecido de sua existência a oferenda is back, me chamando no msn onde simplesmente fui claro e curto referente as coisas que havia me feito, dados 5 minutos da conversa eletrônica, ele liga argumentando por todos os motivos sua ausência e dizendo que ia ser diferente e que íamos retormar nosso "processo de conhecimento'.
Ligações raras e sempre a mesma falta-de-tempo-injustificável** fizeram mais uma vez com que eu o 'abandonasse' mas mantivesse-o desbloqueado no msn mas nao entrasse mais em contato com ele.
Até que na sexta feira passada, havendo ainda certa curiosidade sobre a soberana cara-de-pau do indivíduo e como se eu imaginasse o presságio, chamei ele num tom não-chamo-de-amigo-mas-não-fico-distante:


-Oi moço, tudo bem?
-Tudo
-Poxa tenho que retirar um urso do niver né?


Nessa hora, fui tomado por uma fúria suficiente pra reduzir o final da conversa numa frase e encerrar o msn antes que eu o mandasse a merda.


Pois bem, que sai no dia seguinte com uma compania muito agradável (ok, vocês entenderam) e após dar-lhe um beijo lá na boate, quem eu vejo na mesma pista que nós?
Ele.
Estirou o olhar na minha direção, meio que naquela quando se descobre que não há mais máscaras e enquanto cruzava a pista, tanto proximo, tirou a camisa, meio que num gesto de quem diz: "pensou que me passou pra trás é?".
Fiquei tranquilo, até porque não sinto mais nada por ele, mas foi estranho vê-lo agindo assim e inevitável pensar que então, nas diversas noites aos sábados em que ele dizia que estava em viagem pela empresa do pai, na verdade ele deveria estar lá, como naquele dia: sem camisa, beijando outros caras.
E pasmem, eu não sou vingativo, cago e ando pra quem quer meu mal, mas esta foi uma 'vingança' involuntária.
E pra ser sincero, foi no mínimo interessante vê-lo beijar minutos depois outro cara, numa cena de visível desespero.
No final, me cumprimentou e dei apenas um aperto de mão e segui.
Saiu antes, bem antes. Sem querer me senti vingado por alguém que achava que me manteria no freezer pra usar na hora que quisesse.

Como dizem: Vingança é um prato que se come frio.

*cagou
**Afinal, existe uma diferença muito grande entre real falta de tempo e desculpa-para-manter-alguém-na-geladeira.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O Beijo


Atire a primeira pedra quem nunca dispensou alguém por um beijo. E quem nunca se apaixonou por alguém por causa de um.
Roubado ou não, um bom beijo é sempre marcante.

Explico: O beijo, queiramos ou não é a grande porta de entrada para o outro e a nossa carta de apresentação, nossa vitrine quando conhecemos alguém com segundas intenções.

Surgiu na Suméria (região da antiga Mesopotâmia, hoje Ásia), as pessoas costumavam enviar beijos para os céus, endereçados aos deuses. Na Antigüidade, o beijo materno, de mãe para filho, era bem comum. Entre gregos e romanos, era observado entre todos os membros de uma família e entre amigos bastante íntimos ou entre guerreiros no retorno de um combate, muitas vezes, com conotação erótica. Os gregos, aliás, adoravam beijar. No entanto foram os romanos que o difundiram. Para explanar sobre o beijo, o latim tem três palavras distintas: osculum, beijo na face; basium, beijo na boca; e saevium, beijo leve e com ternura. Beijo na boca, entre cidadãos da mesma classe social, era uma saudação praticada pelos persas. Heródoto, no século 5 a.C., listou todos os tipos de beijos e seus significados entre persas e árabes.
Larrousse

Obvio, são vários os fatores que caracterizam um bom beijo.

O sabor, o jeito, a língua e um "algo mais" instigam a quem recebeu o beijo a prosseguir esse processo continuamente.
E de fato, é um mecanismo que automáticamente faz com que desencadeie outros (sim, é dos quais estou falando) e cada pessoa pode desenvolver uma particularidade: uma mordida na lingua, no lábio superior, aquele ato de "chupar" a lingua do outro, o lamber dos outros lábios, os narizes que se esfregam enquanto rola o beijo, enfim, cada um tem a sua técnica e eu cito aí algumas das minhas. Ok, modestias a parte. rs

Mas é fato que quando voce conhece algum cara, principalmente na balada, o beijo é o fator chave entre tudo o que possa acontecer dali em diante e o que não possa acontecer.

E claro, que um beijo se torna ainda mais gostoso - e tentador a se estender ainda mais - quando as bocas entram em sincronia completa. Daí o resto é apenas consequencia.

Uma saudade, um carinho ou qualquer outra ação, principalmente quando se está com quem se gosta, só é completo com o beijo que sim, é uma das fontes de prazer mais gostosas que se há. Quem nunca ficou horas com alguém sem fazer nada, só beijando? E quando o beijo é bom você quer parar? Você esquece de tudo e de todos.

Bora beijar?

terça-feira, 8 de junho de 2010

Seus Filhos, Nossos Filhos


Ontem assisti ao programa Conexão Repórter do SBT, um programa ímpar na tv brasileira, infelizmente apresentado num horário desprestigiado.
O tema de ontem foi a prostituição infantil e fiquei completamente absorto em meus pensamentos de como uma família - pai e mãe - podem ter a miséria de entregar seus filhos para a venda de seu corpo.
O mais irônico disso é uma sociedade como a brasileira, achar uma abominação a adoção de crianças por casais gays, mas não considera abominante crianças serem abusadas pelos pais dentro da própria casa ou serem entregues a prostituição como acontece em milhares de lares brasileiros, especialmente no norte e nordeste.
Em vários países esta atitude é um crime hediondo e inafiançável. A reportagem mostra inclusive que policiais também fazem uso das meninas como garotas de programa em alguns dos estados mostrados.
E apesar de parecer absurdo, este tipo de violência está muito mais presente em nossas famílias do que pode parecer.
Esta situação lamentável é resultado de famílias em frangalhos, sem valores e ética, porque penso que é dificil viver com uma renda pequena, mas hoje num país que possui recursos assistenciais e tão capilares e assessíveis como o bolsa-família que ajuda tantas famílias carentes principalmente nesta região do país, agir assim transforma esses pais em monstros e destroem o futuro da nossa sociedade que são as nossas crianças.
Estes são filhos deles, mas nossos filhos. Filhos do nosso país. Quem pensa no próprio umbigo, esquece que não adianta se cercar de muros em condomínios e esquecer da sociedade que nos cerca, cabe a nós denunciarmos ao poder público este tipo de atrocidade. Sem fazer a nossa parte e apenas por dizer que "é o Brasil" nunca avançaremos.

Denúncias podem ser feitas através do telefone 100. (Ministério Público)